Uma folha em branco e nada para escrever, um dia de sol e nenhuma vontade de sair... Onde foi parar a vontade, o cheiro das coisas e a curiosidade? Deve estar em algum lugar escondida atrás dos medos, talvez entre os choros contidos e a alegria de estar sozinho.
O que têm no ócio mesmo? Não me lembro! Fui tão bem sucedido em fugir dele que já nem me lembro do que fugia, ficou apenas as respostas, e de tão longe já não vejo as perguntas que me fiz...
Sabe? A vida anda um tanto tediosa, e eu como não sou de gostar de tédio ando pensando em me desafiar, ando buscando muitos desafios lá fora, mas começo a ver que os maiores desafios se escondem na poeira dentro do meu peito, se debatem cansadamente na bagunça que evito a tempos, essa bagunça tem nome, um nome sujo que não gosto de falar ou se quer admitir que existe... mas não adianta, esperei, esperei, e ela não se foi... vou ter de arrumar finalmente essa tal de covardia.
O primeiro passo e ir atrás do que deixei pra traz, vou ter de vasculhar meus amores, me deixar sentir, vou reaprender a chorar, ficar sozinho no escuro, ouvir a noite, olhar pro céu, perguntar, dizer, pedir desculpas e brigar com alguém! Vou dizer o que sinto, vou olhar no espelho e sentir o cheiro do café antes de bebê-lo, vou tentar parar de fumar e provavelmente fracassar, vou dizer uns palavrões e admitir o que tem de feio em mim... vou pedir ajuda e rir de coisas bobas, vou desligar a TV e finalmente andar de bicicleta pela madrugada até cansar e empurrá-la de volta. Vou ao médico e pela primeira vez tomar o remédio até o fim, vou mudar tudo de novo aceitando que o meu lance é a estrada não a chegada. Eu vou, não esperem que eu volte, me procurem no caminho!