quinta-feira, 10 de junho de 2010

Contraditório e Irracional

To com saudades... Saudades imensas de um momento que acho que já vivi, mas não tenho certeza, talvez por tanto ter me esforçado pra esquecer. Um momento em que eu travava verdadeiras batalhas de amor... Quando na minha cama, eu, e o que parecia ser minha metade, disputávamos quem podia dar mais carinho, e o prazer de receber se confundia com o de dar. To com saudades de me sentir inteiro, de esquecer do mundo, de saber que absolutamente tudo cabe na minha cama, e fora dela, abismos: vazios, opacos, escuros e desimportantes. Ah! Que falta sinto de não buscar! De achar despretensiosamente sempre mais e mais naquilo que já encontrei.
Eu vi um filme, e nele os amantes faziam amor no chão, alheios a algo que queimava no fogão. Senti minha boca buscar na memória da língua o gosto tão doce daquele queimado amargo. Depois, eles se levantaram, e enquanto se vestiam, arrumavam coisas e falavam coisas, ainda assim se amavam. Surgiu então o conflito da história; por um motivo qualquer, como todos os motivos são, eles não podiam mais ficar juntos, e olhando nos olhos um do outro eles viviam essa dor. Senti meu coração se apertar, buscando simular pra mim essa dor tão gostosa que não tive mais.
O homem então se foi... e ela sozinha chorava de soluçar. O rosto vermelho da moça, encharcado de lágrimas, prendia aderidos alguns fios de cabelo que pareciam conduzir as lagrimas como as margens conduzem os rios, formando desenhos lindos que condiziam à boca. O som do choro foi diminuindo em proporção inversa ao desespero que eu sentia, não pude me conter e então disse a ela – Eu te amo! – Ela me olhou nos olhos e disse que eu também a deixaria, que não poderíamos ficar juntos também. Como que lendo meus pensamentos sem que eu pudesse falar ela me perguntou se eu não compreendia que o amor de verdade é assim: tem início e meio, jamais fim! O fim arruína a plenitude de um amor! Que os grandes amores de verdade de fato não se conjugam no passado, eles não terminam e vivem pra sempre dentro de nós. Tudo fez muito sentido pra mim, não um sentido lógico, mas um que se encaixava com exatidão na vivência. Me acovardei de concordar. Calei e deixei que os créditos tomassem a tela.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sobre Viver

No meio do lixo eu vivo, aqui eu me crio, me faço e refaço! Eu luto pra viver sem saber por que, eu busco o ar na superfície, eu luto com animais por comida, eu bebo água suja pra não me deixar morrer, eu fico doente e meu organismo luta pra vencer a enfermidade, eu me mantenho sujo o tempo todo pra que os predadores não me vejam no meio do mato... Eu só não sei por quê!
Ontem eu estava com muita fome, e como sempre, saí do meu buraco pra procurar comida, desesperado, quando meu corpo já não podia agüentar. Andei pelo mato olhando tudo que pudesse ser comido, depois de um tempo, olhando, escutando, eu vi um rato se movendo sobre as folhas úmidas do chão, um rato pequeno e peludo, minha boca salivou, eu então me aproximei devagar, com todos os poucos músculos do meu corpo preparados para matar a qualquer custo em nome da minha sobrevivência. Em um movimento rápido eu o agarrei, em um reflexo ele me mordeu, se debateu e saltou para fugir, eu, de quatro como um lobo, o segui sem ligar para o sangue que fluía intenso de minha mão ferida. Cheguei a ter o rabo dele entre os dedos, mas ele fugia, eu gritava. Como uma fera, produzia sons que não sei de onde vinham, e buscava apanhar o roedor como se aquilo fosse tudo! Até que a sorte traiu o pequeno rato, que se viu encurralado em um paredão de pedra que não podia transpor. Ele ali, eu ali, nos estudávamos, ambos com os pelos do corpo eriçados pela adrenalina. O pobre animal estava agora me encarando, disposto a tudo pra salvar sua vida! Quantas vezes o bicho teria evitado predadores? Quantos desafios já enfrentara para salvar sua vida? Reparei que seu rabo rosado tinha a ponta quebrada, assim, virada pro lado, provavelmente uma cicatriz de uma batalha anterior. Ele me testava, indo de um lado para outro, tentando achar uma forma de sair, eu o acompanhava, até que ele, exausto e nervoso corre em minha direção, saltando e gritando. O animal pequenino na derradeira tentativa de salvar sua vida, acabou por enfrentar-me, mesmo sendo eu tão maior que ele e a derrota praticamente eminente, eu não fiquei atrás, e não me intimidei ou me assustei e com os dentes serrados e expostos fui de encontro e o agarrei no ar! Ele se debatia e mordia vários pontos da minha mão quase até o osso, mas eu não o soltaria mais. Apertei com toda minha força o corpo dele entre meus dedos e ele, aos poucos, foi deixando de morder, de se debater, de gritar, e apenas tentava respirar, expandindo e retraindo as minúsculas costelas dentro da minha mão. Completamente vencido e machucado ele ainda lutava como podia pra não morrer. Então, virei a cabeça dele para baixo, e cansado da batalha, acabei com tudo batendo com força contra a pedra. Olhei para baixo e não sabia mais distinguir meu sangue do dele. Antes de comer minha presa, olhei pra ele e me vi; morto, findado, acabado. Me perguntei se iria lutar tanto e tanto, para um dia simplesmente acabar.
Me perguntei. Sem resposta, me recompus, olhei em volta e lambendo minhas feridas e carregando minha comida voltei ao buraco.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Casa do Tempo

Uma casa amarela e vazia, com paredes internas amarelas iluminadas pelo sol forte que se espalha ao passar pelas janelas, silêncio. O vento empurra folhas no jardim da frente e as montanhas ao fundo parecem cantar uma canção muda de paz. Tudo parece correto ali, a casa amarela parece estar onde sempre esteve e devia estar. A poeira que nos cantos se acumula pertence àquele lugar. Do lado de fora da cerca cinza o mundo parece viver, uma ave cruza o céu, as plantas crescem e na montanha ao fundo um fio de agua branca corta o verde. Do lado de dentro não, ali o tempo descansa, deita sobre todo o piso de madeira escura e para. E está certo, o natural não se ressente, o tempo não se culpa e ninguém se incomoda. Ninguém ali além do tempo que descansa...
Ah! Se eu pudesse cruzar a cerca, se pudesse me deitar com o tempo e parar... Ando cansado de correr.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Inauguração

Se pensar é existir: ando existindo muito por aqui! Mais do que gostaria e certamente mais do que deveria! Ando pensando tanto que já não acompanho meu raciocínio! Meus cadernos, cheios de fragmentos de mim, amarelam minhas idéias mais perturbadas, enquanto eu abro os olhos, me levanto e a única coisa que me parece lógica a fazer é tomar o meu café!

Ando me perguntando por onde anda o sentido das coisas... minhas paixões e minhas alegrias! Faz tempo que não as vejo de perto, somente sombras e pegadas que eu persigo como um louco nos labirintos de ser o que sou.

To meio sozinho... to sozinho... me sinto meio... Meio sem um fim. Meio sem inteiro. Um inteiro ao meio! Cade o resto de mim???

Pretendo colocar aqui questões, pois e tudo que tenho, vou falar de mim, da vida e das coisas como se apresentam aos meus olhos. Discutir o que me incomoda e, com sorte, incomodar com minhas discussões.

Alguém me viu por aí?